quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Arrogância na derrota



Por Rogério Getile 

Após uma eleição esquizofrênica em que o governo o tempo todo prometeu mudanças ("mais mudanças") e a oposição ficou repetindo que ia manter isso ou aquilo, as explicações do PSDB para a derrota de domingo surpreendem pela falta de senso crítico.
Os tucanos até agora formularam duas grandes justificativas complementares. A primeira, expressa por FHC, atribui o resultado ao tom agressivo da campanha de Dilma, como se isso tivesse sido uma prerrogativa do PT. Não foi, obviamente.
O PSDB também bateu duro nos adversários. A diferença é que Aécio, embora político com muito mais traquejo do que Dilma, caiu na armadilha presidencial. A petista atacava o tucano no debate da Bandeirantes, citava seus familiares, quando o ex-governador levantou o dedo e lascou um "leviana", achando que poderia repetir com a presidente a mesma virulência que usara no primeiro turno com Luciana Genro. Não podia.
Muito bem explorado pelo PT e por Lula nos palanques, o adjetivo voltou-se contra Aécio como um bumerangue. O candidato, que estava numericamente à frente de Dilma nas pesquisas, começou a perder apoio de parte do eleitorado, sobretudo o feminino, o que lhe foi fatal.
A segunda explicação do PSDB para a derrota beira a arrogância, a mesma que motivou tucanos, duas semanas antes da eleição, a tratarem da montagem do eventual governo Aécio como se a vitória fosse apenas uma questão de tempo. Não era.
Desde domingo, aliados de Aécio reclamam que "Minas falhou com um grande estadista" e que os "mineiros não quiseram ter um presidente na linha de JK". O PSDB, que esperava obter 2 milhões de votos a mais do que Dilma no Estado, perdeu em 608 das 835 cidades, em várias delas por mais de 80% dos votos.
Ou seja, para os tucanos, a derrota não foi motivada por erros do candidato ou do partido, tampouco ocorreu por mérito da adversária. A culpa, ora bolas, é do eleitor.
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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Fascismo à brasileira

Por Leandro Dias*

Historicamente a adesão inicial ao fascismo foi um fenômeno típico das classes dominantes desesperadas e das classes médias empobrecidas e apenas pontualmente conquistou os estratos mais baixos da sociedade, ideologicamente dominados pelo trabalhismo social-democrata ou pelo comunismo. Nos mais diversos cantos do mundo, dos nazistas na Alemanha e camisas-negras na Itália, aos integralistas brasileiros e caudilhistas espanhóis seguidores de Franco, as classes médias, empobrecidas pelas sucessivas crises do pós-guerra (1921 e especialmente 1929), formaram o núcleo duro dos movimentos fascistas.
Esse alinhamento ao fascismo teve como fundo principal uma profunda descrença na política, no jogo de alianças e negociatas da democracia liberal e na sua incapacidade de solucionar as crises agudas que seguiam ao longo dos anos 1910, 20 e 30. Enquanto as democracias liberais estavam estáveis e em situação econômica favorável, com certo nível de emprego e renda, os movimentos fascistas foram minguados e pontuais, muito fracos em termos de adesão se comparados aos movimentos comunistas da mesma época. Porém, uma vez que a democracia liberal e sua ortodoxia econômica mostraram uma gritante fraqueza e falta de decisão diante do aprofundamento da crise econômica nos anos 1920 e 30, a população se radicalizou e clamou por mudanças e ação.
Lembremos que, quando os nazistas foram eleitos em 1932, a votação foi bastante radical se comparada aos pleitos anteriores; 85% dos votos dos eleitores alemães foram para partidos até então considerados mais radicais, a saber, Socialistas (social-democracia), Comunistas e Nazistas (nacional-socialistas), os dois primeiros à esquerda e o último à direita. Os conservadores ortodoxos, anteriormente no poder, estavam perdidos em seu continuísmo e indecisão, sem saber o que fazer da economia e às vezes até piorando a situação, como foi o caso da Áustria até 1938, completamente estagnada e sem soluções para sair da crise e do desemprego, refém da ortodoxia de pensadores da escola austríaca, tornando-se terreno fértil para o radicalismo nazista (que havia fracassado em 1934).
Além disso, o fascismo se apresentava como profundamente anticomunista, o que, do ponto de vista das classes dominantes mais abastadas e classes médias mais estáveis (proprietárias) menos afetadas pelas crises, era uma salvaguarda ideológica, pois o “Perigo Vermelho”, isto é, o medo de que os comunistas poderiam de fato tomar o poder, era um temor bastante real que a democracia liberal parecia incapaz de “resolver” pelos seus tradicionais métodos, especialmente após a crise de 1929. O fascismo desta maneira se apresentou como último refúgio dos conservadores (sejam de classe média ou da elite) contra o socialismo. Os intelectuais que influenciavam os setores sociais menos simpáticos ao fascismo, o viam como um mal menor “temporário” para proteger a “boa sociedade” das “barbáries socialistas”, como o guru liberal Ludwig von Mises colocou, reconhecendo a fraqueza da democracia liberal face ao “problema comunista”:
Não pode ser negado que o Fascismo e movimentos similares que miram no estabelecimento de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que suas intervenções, no momento, salvaram a civilização européia. O mérito que o Fascismo ganhou por isso viverá eternamente na história. Mas apesar de sua política ter trazido salvação para o momento, não é do tipo que pode trazer sucesso contínuo. Fascismo é uma mudança de emergência. Ver como algo mais que isso, seria um erro fatal. (L. von Mises, Liberalism, 1985[1927], Cap. 1, p. 47)
Além da descrença na política tradicional e do temor do perigo vermelho num cenário de crise, houve ainda uma razão fundamental para as classes médias adentrarem as fileiras do fascismo: o medo do empobrecimento e a perda do status social.
Esse sentimento – chamado de declassemént ou declassê no aportuguesado, algo como ”deixar de ser alguém de classe” – remetia ao medo de se proletarizar e viver a vida miserável que os trabalhadores, maior parte da população, viviam naquela época. Geralmente associava-se ao receio de que o prestígio social ou o reconhecimento social por sua posição econômica esmorecessem, mesmo para pequenos proprietários e profissionais liberais sem títulos de nobreza (ver Norbet Elias,Os Alemães). Esse medo entra ainda no contexto de uma evidente rejeição republicana, uma reação conservadora do etos nobiliárquico que dominava as classes altas e parte das classes médias urbanas nos países fascistas, à consolidação dos ideais liberais (mais igualitários) na estrutura social de poder e de privilégios, isto é, na tradição social aristocrática. Não foi por acaso que o fascismo foi uma força política exatamente onde os ideais liberais jamais haviam se arraigado, como Itália, Espanha, Portugal, Alemanha e Brasil.
Por fim, cumpre lembrar que os fascistas apelam à violência como forma de ação política. Como disse Mussolini: “Apenas a guerra eleva à energia humana a sua mais alta tensão e coloca o selo de nobreza nas pessoas que têm a coragem de fazê-la” (Doutrina do Fascismo, 1932, p. 7). A perseguição sem julgamento, campos de trabalho e autoritarismo não só vieram na prática muito antes do genocídio e da guerra, mas também já estavam em suas palavras muito antes de acontecerem. No discurso e na prática, a sociedade é (ou destina-se) apenas para aqueles que o fascista identifica como adequados; há um evidente elitismo e senso de pertencimento “correto” e “verdadeiro”, seja uma concepção de nação ou de identidade de raça ou grupo. E essa identidade “verdadeira” será estabelecida à força se preciso.

Mas por que estamos falando disso?
Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil que importantes setores da classe média e classe alta simpatizam com ideais semelhantes  aos que formaram o caldeirão social do fascismo?
Vimos em texto recente que a sociedade brasileira, em particular a classe média tradicional e a elite, carrega fortes sentimentos anti-republicanos (ou anticonstitucionais), herdados de nossa sucessão de classes dominantes sem conflito e mudança estrutural, sem qualquer alteração substancial de sua posição material e política, perpetuando suas crenças e cultura de Antigo Regime. Privilégios conquistados por herança ou “na amizade”, contatos pessoais, indicações, nepotismos, fiscalização seletiva e personalista; são todas marcas tradicionais de nossa cultura política. A lei aqui “não pega”, do mesmo jeito que para nazistas a palavra pessoal era mais importante que a lei. Há um paralelo assustador entre a teoria do fuhrerprinzip e a prática da pequena autoridade coronelista, à revelia da lei escrita, presente no Brasil.
Talvez por isso, também tenhamos, como a base social do fascismo de antigamente, uma profunda descrença na política e nos políticos. Enojada pelo jogo sujo da política tradicional, das trocas de favores entre empresas e políticos, como o caso do Trensalão ou entre políticos e políticos, como os casos dos mensalões nos mais variados partidos, a classe média tradicional brasileira se ilude com aventuras políticas onde a política parece ausente, como no governo militar ou na tecnocracia de governos de técnicos administrativos neoliberais. Ambos altamente políticos, com sua agenda definida, seus interesses de classe e poder, igualmente corruptos e escusos, mas suficientemente mascarados em discursos apolíticos e propaganda, seja pelo tecnicismo neoliberal ou pelo nacionalismo vazio dos protofascistas de 1964, levando incautos e ingênuos a segui-los como “nova política” messiânica que vai limpar tudo que havia de ruim anteriormente
Por sua vez, como terceiro ponto em comum, partes das classes médias tradicionais e a elite têm um ódio encarnado de “comunistas”, e basta ler os “bastiões intelectuais” da elite brasileira, como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino ou Olavo de Carvalho ou mesmo porta-vozes do soft power do neoconservadorismo brasileiro, como Lobão e Rachel Sherazade. É curioso que o mais radical deles, Olavo de Carvalho, enxergue “marxismo cultural” em gente como George Soros (mega-especulador capitalista), associando-o ao movimento comunista internacional para subjugar o mundo cristão ocidental. Esse argumento em essência é basicamente o mesmo de Adolf Hitler: o marxismo e o capital financeiro internacional estão combinados para destruir a nação alemã (Mein Kampf, 2001[1925], p. 160, 176 e 181).
A violência fascista, por sua vez, é apresentada na escalada de repressão punitivista e repressora do Estado, apesar de – ainda – ser menos brutal que o culto à guerra dos fascistas dos anos 1920 e 30. Antes restritos apenas aos programas sensacionalistas de tv sobre violência urbana e aos apologistas da ditadura como Jair Bolsonaro, o discurso violento proto-fascista “bandido bom é bandido morto”, que clama por uma escalada de repressão punitiva, sai do campo tradicionalmente duro da extrema direita e se alinha ao pensamento de economistas liberais neoconservadores que consideram que “o criminoso faz um cálculo antes de cometer seu crime, então é o caso de elevar constantemente o preço do crime (penas intermináveis, assédio, execuções), na esperança de levar aqueles que sentirem tentados à conclusão de que o crime já não compensa” (Serge Hamili, 2013). Assim, a apologia repressora se alinha à lógica do punitivismo mercantil de apologistas do mercado, mimetizando um Chile de Pinochet onde um duríssimo estado repressor, anticomunista, está alinhado com o discurso  neoliberal mais radical.
E, ainda, somam-se a isso todo o classismo e o racismo elitista evidentes de nossa “alta” sociedade. Da “gente diferenciada” que não pode frequentar Higienópolis, passando pelo humor rasteiro de um Gentili, ou o explícito e constrangedor classismo de Rachel Sherazade, que se assemelha à “pioneira revolta” de Luiz Carlos Prates ao constatar que “qualquer miserável pode ter um carro”, culminando com o mais vergonhoso atraso de Rodrigo Constantino em sua recente coluna, mostrando que nossos liberais estão mais inspirados por Arthur de Gobineau e Herbert Spencer do que Adam Smith ou Thomas Jefferson. A elite e a classe média tradicional (que segue o etos da primeira), não têm mais vergonha de expor sua crença no direito natural de governar e dominar os pobres, no “mandato histórico” da aristocracia sobre a patuléia brasileira. O darwinismo social vai deixando o submundo envergonhado da extrema direita para entrar nos nossos televisores diariamente.
Assim, com uma profunda descrença na política tradicional e no parlamento, somada a um anti-republicanismo dos privilégios de classe e herança, temperados por um anticomunismo irracional sob auspícios de um darwinismo social histórico e latente, aliado a uma escalada punitivista alinhada à “ciência” econômica neoliberal, temos uma receita perigosa para um neofascismo à brasileira. Porém, antes que corramos para as montanhas, falta um elemento fundamental para que esse caldeirão social desemboque em prática neofascista real: crise econômica profunda.
Apesar do terrorismo midiático, nossa sociedade não está em crise econômica grave que justifique esta radicalização filo-fascista recente. Pela primeira vez em décadas, o país vive certo otimismo econômico e, enquanto no final dos anos 1990, um em cada cinco brasileiros estava abaixo da linha da pobreza, hoje este número é um em cada 11. A Petrobrás não só não vai quebrar como captou bilhões recentemente. A classe média nunca viajou, gastou no exterior e comprou tanto quanto hoje, nem mesmo no auge insano do Real valendo 0,52 centavos de dólar. O otimismo brasileiro está muito acima da média mundial, mesmo que abaixo das taxas dos anos anteriores.
No entanto, apesar de tudo isso, parte das antigas classes médias e elites continuam se radicalizando à extrema direita, dando seguidos exemplos de racismo, intolerância, elitismo, suporte ao punitivismo sanguinário das polícias militares, aplaudindo a repressão a manifestações e indiferentes a pobres sendo presos por serem pobres e negros em shopping centers. Isso tudo com aquela saudade da ditadura permeando todo o discurso. Se não há o evidente declassmént, o empobrecimento econômico, ou mesmo um medo real do mesmo, como explicar esta radicalização protofascista?
Não é possível que apenas o tradicional anti-republicanismo, o conservadorismo anti-esquerdista e o senso de superioridade de nossas elites e classes médias tradicionais sejam suficientes para esta radicalização, pois estes fatores já existiam antes e não desencadeavam tamanha excrescência fascistóide pública.

Não.
O Brasil vive um fenômeno estranho. As classes médias tradicionais e elite estão gradualmente se radicalizando à extrema direita muito mais por uma sensação de declassmént do que por uma proletarização de fato, causada por alguma crise econômica. Esta sensação vem, não do empobrecimento das classes médias tradicionais (longe disso), mas por uma ascensão econômica das classes historicamente subalternas. Uma ascensão visível. Seja quando pobres compram carros com prestações a perder de vista; frequentam universidades antes dominadas majoritariamente por ricos brancos; ou jovens “diferenciados” e barulhentos frequentam shoppings de classe média, mesmo que seja para olhar a “ostentação”; ou ainda famílias antes excluídas lotando aeroportos para visitar parentes em toda parte.
Nossa elite e antiga classe média cultivaram por tanto tempo a sua pretensa superioridade cultural e evidente superioridade econômica, seu sangue-azul e posição social histórica; a sua situação material foi por tanto tempo tão sem paralelo num dos mais desiguais países do mundo, que a mera percepção de que um anteriormente pobre pode ter hábitos de consumo e culturais similares aos dela, gera um asco e uma rejeição tremenda. Estes setores tradicionais, tão conservadores que são, tão elitistas e mal acostumados que são, rejeitam em tal grau as classes historicamente humilhadas e excluídas, “a gente diferenciada” que deveria ter como destino apenas à resignação subalterna (“o seu lugar”), que a ascensão destes “inferiores” faz aflorar todo o ranço elitista que permanecia oculto ou disfarçado em anti-esquerdismo ou em valores familiares conservadores. Não há mais máscara, a elite e a classe média tradicional estão mais e mais fazendo coro com os históricos setores neofascistas, racistas e pró-ditadura. Elas temem não o seu empobrecimento de fato, mas a perda de sua posição social histórica e, talvez no fundo, a antiga classe média teme constatar que sempre foi pobre em relação à elite que bajula, e enquanto havia miseráveis a perder de vista, sua impotência política e vazio social, eram ao menos suportáveis.

REFERÊNCIAS GERAIS:
ELIAS, Norbert. Os Alemães. Rio de Janeiro: Zahar, 1996
HAMILI, Serge. O laissez faire é libertário?. IN: Le Monde Diplomatique Brasil, número 71, 2013.
HITLER, Adolf. Mein Kampf. São Paulo: Centauro, 1925
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Letras,1996
MISES, Ludwig von.  Liberalism. Irvington.The Foundation for Economic Education, 1985
MUSSOLINI, Benito. Doctrine of Fascism. Online World Future Fund. 1932
POULANTZAS, Nicos. Fascismo e Ditadura. Porto: Portucalense, 1972
SCHMIT, Carl. Teologia Política. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

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* Historiador
Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/01/fascismo-brasileira.html


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Por que Dilma sobe e Aécio despenca?

Resultado da última pesquisa Datafolha

Por Ivonaldo Leite 

Dizia o italiano Paolo Mantegazza que ‘a ciência é o melhor instrumento para medir a ignorância’. Ao analisarmos a atual campanha presidencial, de forma retrospectiva, não cabe senão reconhecer pertinência à afirmativa de Mantegazza – isto se o analista mobiliza métodos que, sendo originários do consistente background da ciência social, lhe permitam ir além da aparência dos fenômenos.  Entendamo-nos.
Após o primeiro turno, seguiu-se uma “onda” de entusiasmo no ninho tucano, com o candidato Aécio, de dedo em riste, praticamente a montar a equipe do seu governo, já tendo até mesmo divulgado quem seria o seu Ministro da Fazenda – Armínio Fraga, ex-Presidente do Banco Central (no Governo Fernando Henrique Cardoso). Contudo, esta última semana que precede a eleição está a cair como um balde de água fria entre os tucanos, com recuperação da Presidente Dilma, estando ela, segundo as últimas sondagens, à frente do seu oponente. Por que então sobe Dilma e despenca Aécio?
Comecemos com o mais prosaico: a avaliação do governo federal. Tão afeitos à erudição, os tucanos “esqueceram” de fazer a devida leitura da série estatística de avaliação do Governo Dilma. Mesmo nos momentos mais difíceis da gestão da Presidente (como em junho de 2013), quando, imprudentemente, determinados órgãos de imprensa divulgavam que as ‘sete pratas do Egito tinham caído sobre o país’, a taxa de rejeição do Governo (ruim e péssimo) nunca foi superior à soma de ótimo, bom e regular - conforme pode ser observado no gráfico abaixo. Agora, em outubro, ótimo e bom somam 42%, tendo-se uma taxa de regular de 37%. Ora, com uma avaliação dessas, como imaginar que o Governo estava liquidado ou era impopular? Mas os tucanos seguiram com a escalada de equívocos.

Fonte: Datafolha - 20/10/2014
 O segundo erro foi eleger como pólo mobilizador da campanha o ódio contra o PT, brandindo que ‘deve ser banido da administração brasileira, que ‘é um ajuntamento de corruptos’, e coisas do gênero (a propósito foi, e é, no mínimo, estranho ver pessoas religiosas, aecistas, sendo movidas pelo discurso do ódio...).  Como o ódio, de acordo com a sabedoria antiga, envenena a alma, e assim cega, os tucanos tornaram-se incapazes de reconhecer o papel positivo que o PT desempenhou na história brasileira (reconhecido até por outros críticos do partido). Mais ainda, passaram a se referir ao partido de forma homogênea, como se todos aqueles que integram a legenda e/ou que tomaram parte na sua construção fossem partícipes de eventuais ilícitos cometidos por alguns, e que, diga-se, estão sob investigação ou cumprindo penalidades. O resulto disso é que o PSDB conseguiu algo inédito: fez com que antigos integrantes do partido, que estavam afastados (ou até mesmo já tinham se desfiliado da agremiação), voltassem a firmar fileiras em defesa da reeleição da Presidente Dilma, sentindo-se insatisfeitos (e mesmo agredidos) com as injúrias tucanas.
O terceiro equívoco foi apontar o dedo como uma metralhadora giratória, com o tucanato de alta plumagem se apresentando como guarda-chaves da ética – sem que tenha a menor condição para isso. A última semana e a presente têm sido ilustrativas na demonstração disso. Ao abrir a mala dos escândalos do PSDB, em um dos debates, e perguntar onde estavam os envolvidos nos casos Sivam, compra de votos para a reeleição, pasta cor de rosa, mensalão tucano de Minas Gerias e compra de trens em São Paulo, respondendo, em seguida, ‘todos soltos’, a Presidente Dilma mostrou como é seletiva e hipócrita a preocupação ética do PSDB. Para completar, nos últimos dias, da tão repisada questão Petrobras, onde, diga-se, o Governo colabora com as investigações, chega a informação que tucanos graúdos receberam propina.
O quarto erro veio do bico do tucano-mor. Ultimamente, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso tem tendido a dizer coisas empoladas. Ao afirmar que os eleitores da Presidente Dilma eram desinformados, a um só tempo, deu “lustração” para manifestações preconceituosas contra os nordestinos e aglutinou a insatisfação destes contra o candidato Aécio. Mas o ex-Presidente não parou por aí. A sua última é uma crítica à distribuição de bolsas pelo Programa Ciências Fronteiras, para que jovens graduandos brasileiros tenham uma experiência em universidades estrangeiras. Pelo seu passado como acadêmico, essa é uma posição que não se esperava dele. Mas dele também não se esperava – como ocorreu em seu governo - que passasse oito anos sem abrir uma nova universidade federal no país e nem mesmo  realizasse concurso para as existentes. Talvez devamos lembrar que, no processo de alianças que o levou à Presidência da República, ele pediu-nos que esquecêssemos o que havia escrito como sociólogo.
Os tucanos apresentam-se, ainda, sustentando dois emblemas: renovação e competência. A propósito da renovação, trata-se de um caso conceitual único, ou seja, renovar significa então voltar ao passado – entregar novamente o governo aos que o controlavam antes. Alegam a necessidade de alternância de poder, mas esse é um discurso que, para eles, não vale em São Paulo, onde estão no Palácio dos Bandeirantes há mais de vinte anos. E a competência? O terreno aí é, no mínimo, gelatinoso. Após “tantos anos de competência” em São Paulo, o que se tem, hoje, é falta de água, racionamento, que eles, com astúcia retórica, chamam de ‘administração de recursos hídricos’.
Last but not least, o peso dos fatos imputados à vida pregressa do candidato Aécio Neves: episódios relacionados à Lei Maria da Penha, à Lei Seca, à questão das drogas, à conduta na administração de Minas Gerais, etc. No caso da reação das mulheres ao candidato, é significativa a inversão de curva que as últimas pesquisas têm captado, e mesmo entre os homens, conforme pode ser visto nos dois gráficos abaixo.


datafolha sexo


Faltando poucos dias para a eleição, essa tendência de fato é um péssimo sinal para Aécio Neves. Se ela for consolidada daqui até domingo, como consolo, restará aos tucanos e aliados penitenciarem-se lembrando do italiano Paolo Mantegazza: o preço pago por se ignorar a realidade é o devaneio, é não ir a lugar nenhum. Quem almeja a Presidência da República, como de resto qualquer outro cargo na vida pública, não pode se limitar a criar factóides, apontar o dedo aos outros – escondendo, contudo, o seu telhado de vidro – e apostar no ódio como combustível de campanha. 

sábado, 18 de outubro de 2014

Amor e ciúme na contemporaneidade: reflexões psicossociológicas




Por Lauane Baroncelli
University College Cork, Cork, Ireland

O ciúme é um tema antigo e recorrente nos discursos sobre os relacionamentos humanos. No escopo artístico, o amor e os dilemas do ciúme foram muitas vezes capturados e em seguida revelados ao mundo nos mitos, tragédias, dramas, bem como em obras de literatura, dança e pintura, algumas das quais se tornaram célebres e imortais. É o caso, por exemplo, de Otelo, de Shakespeare, em que o ciúme é metaforizado pelo autor na imagem de um monstro de olhos verdes que cega o personagem do título e causa a morte da doce Desdêmona, sua esposa. Também no Brasil, na literatura do final do século XIX, o ciúme aparece em uma das obras mais conhecidas de nosso imortal escritor, Machado de Assis, o romance Dom Casmurro. Poderíamos citar muitos outros exemplos literários que giram em torno do tema, não apenas em textos clássicos do passado, que permanecem no imaginário cultural até os dias de hoje, como também em obras mais recentes.
Parece, assim, que o ciúme não é uma experiência contemporânea. Ao contrário, ele é um sentimento antigo, atemporal, que atravessa diferentes épocas e contextos. Os registros históricos que retratam a forma pela qual o amor e o ciúme foram concebidos ao longo do tempo constatam sua inserção histórica e seu caráter mutável de acordo com o contexto ao qual estão referidos (Ariès & Bejin, 1986; Del Priore, 2005; Lázaro, 1996, entre outros).
Um aspecto revelador da condição histórica do ciúme se expressa nos diversos códigos e prerrogativas sociais que atuam sobre a infidelidade do homem e da mulher de acordo com as desigualdades de gênero inerentes a cada época. Conforme diversos autores observam (Branden, 1998; Foucault, 1993; Freyre, 1977; Lázaro, 1996; Yalom, 2002), em vários períodos da história a infidelidade do homem deveria ser aceita ou ao menos tolerada pela mulher, ao passo que uma traição feminina podia levar, em alguns contextos, à perseguição, abandono ou até à morte. Com isso, a manifestação de ciúme, sua aceitação social e a própria experiência de ciúmes no interior das relações amorosas entre o homem e a mulher foi, ao longo do tempo, necessariamente marcada pelas especificidades de cada contorno sociocultural no que diz respeito à fidelidade.
Neste artigo, aborda-se o ciúme diante das interferências do contexto contemporâneo, discutindo o modo como as transformações históricas que caracterizam a nossa época podem atravessar essa experiência, dotando-a de significados particulares.
Pelo fato de o nosso interesse se dirigir, aqui, ao campo psicossociológico, não nos preocuparemos em aprofundar a discussão conceitual sobre o ciúme. Essa discussão já tem sido largamente realizada na literatura existente sobre a questão (Cavalcante, 1997; Ferreira-Santos, 1996; Pines, 1992; White & Mullen, 1989). Mas, para introduzir o debate, precisamos esclarecer que operamos nossas análises sobre aquela espécie de ciúme que gera, de forma significativa, algum grau de sofrimento pessoal e interpessoal para o indivíduo e seu parceiro amoroso. Esse sofrimento está vinculado a uma rígida desconfiança de infidelidade do parceiro, nem sempre relacionado a situações reais de ameaça.

O flexível amor na contemporaneidade
A partir de meados do século XX, a "civilização moderna industrial", assentada na produção e em máquinas cada vez mais sofisticadas, começa a se transformar, progressivamente, numa sociedade pós-industrial, mobilizada pelo consumo e pela informação (Santos, 1996). Neste contexto de transformação capitalista, a cultura também foi afetada e, com ela, o domínio da experiência social contemporânea materializada na vida cotidiana.
Conforme a análise de autores como Bauman (2003), Giddens (2002) e Hall (2003), com o aparecimento e a propagação dos meios eletrônicos de comunicação e a consequente articulação entre partes do mundo geograficamente distantes, os aspectos locais e globais da existência passam a interagir, e às certezas tradicionais são acrescentadas influências advindas de diversas direções.
Com essa afirmação, não pretendemos ignorar que aquilo que denominamos de "experiência social contemporânea" encontra exceções e, até mesmo, tendências contrárias em alguns grupos culturais específicos. Entretanto, vamos tratar aqui daqueles grupos e sociedades que estão mais distintamente sob o domínio e a égide dessas mudanças globais que caracterizam a contemporaneidade, algo que ocorre, prioritariamente, nas camadas urbanas industrializadas das sociedades ocidentais, principalmente a partir de meados do séc. XX.
Após os conturbados anos de 1960, tendo a humanidade vivido a experiência de duas grandes guerras, ideias que tinham a pretensão de universalidade começam a perder a consistência e a credibilidade que tinham na modernidade, tornando-se relativizáveis (Hall, 2003; Vaitsman, 1994).
Segundo Hall (2003), num universo marcado por tal questionamento de normativos universais, as antigas identidade fixas e essenciais diluem-se. O sujeito assume, portanto, identidades móveis e fragmentadas, muitas vezes contraditórias (Hall, 2003, p. 12). Tal processo seria decorrente, segundo Hall, da emergência de novas identidades trazidas na esteira dos movimentos raciais, feministas e de libertação nacional, trazidos na esteira dos movimentos de contracultura na década de 1960 (Hall, 2003, p. 21).
Conforme Vaitsman (1994), tais movimentos atacavam, por diversas frentes, atributos que consideravam o mundo elitista e autocrático da Modernidade. Na luta contra formas variadas de opressão - raciais, sexuais, étnicas -, a dominação subjacente à ideia de razão universal do mundo moderno era fortemente denunciada. Ou seja, se a Modernidade promulgava um indivíduo livre e igual, dotado de razão e capacidade para apropriar-se das coisas da natureza, tais movimentos denunciavam, por detrás dessa pretensa universalidade, a dominância, por vezes opressiva, de determinados segmentos e categorias sociais particulares sobre outros (Rocha-Coutinho, 1996; Vaitsman, 1994). No plano das relações amorosas e da família, por exemplo, certezas relativas aos papéis de gênero eram baseadas, durante o período moderno, numa visão essencial dos sexos. Tradicionalmente, a individualidade feminina era tomada como valor determinado, devendo manifestar sua essência como mãe e esposa. Somente a partir da ruptura da dicotomia entre público e privado, materializada na participação das mulheres no mundo do trabalho, é que tais normas tradicionais sobre os papéis sexuais no casamento e na família são, finalmente, questionadas (Vaitsman, 1994).
A chamada "incredulidade em relação às metanarrativas", expressão cunhada por Lyotard (1979), é bastante reveladora da nova circunstância cultural em que todas as teorias que pretendiam dar conta, de maneira definitiva e totalizadora, do entendimento sobre a humanidade, são questionadas. Lyotard (1979) sustenta que a pós-modernidade dilui narrativas totalizadoras, enquanto narrativas múltiplas e alheias a qualquer legitimização universalizante passam a se impor, desafiando a segurança das sólidas regras nas quais a modernidade se pautava e que ajudavam a conformar a vida social (Pedro & Nobre, 2002-2003). No lugar da visão Iluminista que promulgava a substituição das superstições e dogmas da tradição pela certeza racional da ciência, o que se desenvolveu de fato, pelos próprios trâmites inerentes ao método científico, foi o impositivo da dúvida.  A partir dele, todo conhecimento e conduta social recebem o status de hipótese (Lyotard, 1979).
Em campos os mais diversos, que vão da ciência à arte, à filosofia, à economia e à política, bem como nos relacionamentos amorosos entre homens e mulheres, a heterogeneidade, a abertura, a pluralidade, a flexibilidade, a instabilidade e a incerteza marcam a experiência humana (Vaitsman, 1994).
Refletindo, portanto, a perspectiva contemporânea, os diferentes modelos e padrões de relacionamentos amorosos convivem lado a lado, sem que haja um modelo dominante que, de maneira consistente, se sobreponha aos demais. Ao contrário, também no amor, diferentes códigos e modelos tendem a se misturar e coexistir, como casais casados e descasados, famílias adotivas, uniões liberais, uniões homossexuais, entre outros (Giddens, 2002). Além disso, o relacionamento amoroso torna-se uma experiência passível de repetição, mudança e de dissolução ao longo do tempo (Bauman, 2004). Torna-se cada vez mais comum as pessoas afirmarem terem tido vários amores ao longo da vida e, dificilmente, na contemporaneidade, alguém declara sem hesitação a crença na eternidade do vínculo amoroso.
Analisando a conformação histórica da nova condição do relacionamento a dois, diversos autores (Beck & Beck-Gernsheim, 1995; Giddens, 2003; Rocha-Coutinho, 1996; Vaitsman, 1994) observam que, com o mencionado questionamento da divisão sexual do trabalho começam a se estabelecer as condições para o surgimento de um relacionamento amoroso tal como ele é concebido na contemporaneidade. Nele, dois indivíduos livres e com direitos iguais vão se confrontar com expectativas e projetos pessoais que podem divergir (Vaitsman, 1994).
Além disso, a partir da década de 1960, critérios relativos à classe social, raça e etnia começaram a ter importância cada vez menor na escolha do parceiro amoroso. Surgiu a possibilidade de casais coabitarem e o tabu da virgindade também começou, pouco a pouco, a se dissolver (Del Priore, 2005; Yalom, 2002).
Como analisam Beck & Beck-Gernsheim (1995), num tempo em que o antigo absolutismo das regras tradicionais sobre a vida amorosa - materializado nas apriorísticas e predeterminadas fases de namoro, noivado, casamento, sexo, filhos e morte - é questionado, a intimidade amorosa passa a se desenrolar num terreno muito mais aberto e, por isso, desafiador.
Cria-se um cenário propício para o estabelecimento daquilo que Giddens denominou "relação pura" (Giddens, 2002, p. 86). Homens e mulheres são vistos agora em bases iguais e devem, com a maior liberdade possível, escolher com quem irão se envolver amorosamente, bem como definir a forma do relacionamento, sua manutenção ou dissolução. Rompe-se definitivamente com a antiga ideia de relacionamento em que ficava estabelecida sua organização e garantida sua durabilidade ao longo do tempo. Ao contrário, uma característica fundamental do relacionamento puro, postulado por Giddens (2002), é que ele admite qualquer organização - casais casados, co-habitação, relações "livres" etc. -, podendo também ser terminado, sem maiores restrições, em qualquer momento e por qualquer um dos parceiros.
Sem as antigas garantias da tradição que propiciavam previsibilidade e a manutenção do relacionamento no tempo, os parceiros de uma união amorosa precisam agora gerenciar a nova condição na qual o relacionamento a dois se torna, nas palavras de Giddens (2003, p. 87), "internamente referido". Isso quer dizer que, agora, o suporte do casal advém, prioritariamente, das características da parceria amorosa que eles próprios constroem, e não das antigas balizas da tradição que estabeleciam regras previsíveis para o relacionamento.
Dá-se, assim, a substituição dos relacionamentos apriorísticos do passado - praticamente isentos de projetos e escolhas pessoais, e recheados de sociabilidade comunitária - pelo domínio da opção pessoal, palco privilegiado das relações na contemporaneidade (Nolasco, 2001; Wittel, 2002). Isso não significa dizer que o momento atual esteja isento de elementos de sociabilidade comunitária. Na realidade, aspectos tradicionais persistem no domínio da intimidade amorosa, com mais importância, é verdade, em certos contextos que em outros. No entanto, a tendência contemporânea parece caminhar, explicitamente, para uma flexibilização desses condicionantes externos preexistentes ao relacionamento amoroso, que passa a sustentar-se, fundamentalmente, em si próprio.
Um casal que decide estabelecer um compromisso amoroso na atualidade ingressa, portanto, no campo da escolha, trazendo consigo todos os ganhos e riscos inerentes a esta nova posição. Sendo assim, praticamente não há mais a possibilidade de se permanecer numa experiência amorosa porque "assim se espera e deve ser". Ao permanecer nela, o casal o faz por ter assim decidido, e não mais em decorrência de leis de convivência social que estabeleciam, no passado, uma rota quase inabalável de conduta.
Como analisam Beck & Beck-Gernsheim (1995), na contemporaneidade, o relacionamento deve conferir felicidade e realização para o casal, o que conforma a experiência amorosa como um campo do qual se exige e se espera muito mais nos dias de hoje.
Longe do antigo, e por vezes entediante, conforto de ir seguindo o "rio da vida" e da relação, o casal precisa, agora, num rio de correntezas misturadas e concorrentes, determinar o curso que deseja seguir. Giddens (2003) analisa como, nesse contexto, habilidades emocionais como as concernentes aos domínios do diálogo, da negociação democrática, da expressão de sentimentos, da revelação de si e da capacidade de perceber o outro, dentre outras, passam a entrar definitivamente em questão.
Diversos teóricos (Bauman, 2004; Giddens, 2003; Plastino, 1996; Vaitsman, 1994) têm analisado, ainda, o modo pelo qual o amor contemporâneo passa a refletir, de forma ambígua, a lógica capitalista de mercado que se torna o centro da vida social.
Tais análises sugerem que, de maneira subjacente à liberdade promulgada pelo novo modo de produção capitalista e o individualismo que lhe é correlato, fins religiosos e tradicionais passaram a ter poder de influência diluído na cena social, ao mesmo tempo em que as leis do mercado tornaram-se o novo objetivo a ser alcançado. Por consequência, os indivíduos e suas relações interpessoais tornam-se potencialmente atravessadas e conformadas por tais leis. Nas palavras de Giddens (2002):
Os mercados operam sem consideração a formas preestabelecidas de comportamento, que em sua maior parte representam obstáculos à criação da livre troca ... Em maior ou menor grau o projeto do eu vai assim se traduzindo como a posse de bens desejados e a perseguição de estilos de vida artificialmente criados ... O consumo de bens sempre renovados torna-se em parte um substituto do desenvolvimento genuíno do eu. A aparência substitui a essência à medida que os signos visíveis do consumo de sucesso passam a superar na realidade os valores de uso dos próprios bens e serviços em questão (p. 183).
Diversos autores vêm analisando o processo pelo qual o mencionado "projeto do eu" torna-se permeado pelo consumo, de modo que os sujeitos, bem como seus relacionamentos, correm o risco de confundirem-se, em alguns aspectos, com a lógica das mercadorias (Bauman, 2004; Costa, 1998).
No campo das relações amorosas contemporâneas, Miller (1995) associa tal processo ao que ele denomina "terrorismo íntimo" (p. 74). A partir dessa metáfora, o autor explica como, frequentemente, casais contemporâneos, ao invés de estabelecerem um encontro com o outro, no qual a afirmação mútua retroalimente os envolvidos, constroem um padrão baseado na disputa pelo controle da relação e prevalência das ideias e desejos de cada um. Nesse sentido, ao invés de uma relação ou parceria, o que acaba se desenvolvendo é algo semelhante a uma "guerra a dois" em que, nos moldes da cultura capitalista de mercado, cada um luta por seus próprios interesses, sem conseguir efetivamente se comunicar com o outro.
O princípio de instantaneidade inerente à lógica consumista é então reencenado na experiência a dois e, na ausência de satisfação imediata, é provável que o descarte do relacionamento seja a atitude em vista (Bauman, 2004; Costa, 1998).
Segundo Harvie Ferguson (1996, citado por Bauman, 2001), o desejo deixa de ser, na fase atual do capitalismo avançado, o critério em torno do qual as práticas de consumo se organizam. Em seu lugar, impõe-se a pura vontade de consumir, um impulso mecânico que, ao invés de dirigir-se ao desejo de status, vaidade ou inveja é apoiado, sobretudo, em si mesmo.
Nessa lógica, satisfação e prazer não estão necessariamente pautados num desejo efetivo que, estando finalmente livre das repressões do passado, pode ser assumido e se desenvolver. Segundo Bauman (2004):
Dizer "desejo" talvez seja demais. É como num shopping: os consumidores hoje não compram para satisfazer um desejo, como observou Harvie Ferguson – compram por impulso. Semear, cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo insuportavelmente prolongado para os padrões de uma cultura que tem pavor em postergar, preferindo a satisfação instantânea). … Guiada pelo impulso ("seus olhos se cruzam na sala lotada"), a parceria sexual segue o padrão do shopping e não exige mais do que as habilidades de um consumidor médio, moderadamente experiente. Tal como outros bens de consumo, ela deve ser consumida instantaneamente (não requer maiores treinamentos nem uma preparação prolongada) e usada uma só vez, "sem preconceito". É, antes de mais nada, eminentemente descartável (pp. 26 -27).
A força e a aparente radicalidade das palavras e dos sentidos do texto de Bauman, longe de representarem, em nossa opinião, uma análise retórica daquilo que se desenvolve hoje no contexto das parcerias afetivo-sexuais, retratam aquilo que vivemos e presenciamos na cultura em nossos dias. Paradoxalmente, os indivíduos contemporâneos, ao mesmo tempo ávidos por buscarem companhia e se vincularem amorosamente, parecem viciados na velocidade e nos signos do consumo, sendo, por vezes, maquinalmente levados pelas regras, modelos e padrões mercadológicos, coisificando a si mesmos e aos outros sem se darem conta disso.
Nessa lógica, enquanto a sexualidade "usada uma só vez, sem preconceito" é uma expressão natural da liberdade tão valorizada na contemporaneidade, experiências duradouras, que envolvem um investimento situado para além da ordem do impulso, tornam-se marcadas por um misto contraditório de anseio e descrença.
Revelando tais contradições, a ênfase contemporânea na intimidade como espaço privilegiado para a realização individual transforma o amor numa espécie de método para o alcance da felicidade (Beck & Beck-Gernsheim, 1995; Giddens, 2003). Lázaro (1996) acrescenta que, entretanto, quando tal experiência não oferece soluções tão imediatas quanto o sexo, implicando, ao invés disso, uma necessidade de riqueza interior que possibilite o controle emocional da vida a dois, o relacionamento amoroso corre o rico de transformar-se num projeto que está eternamente recomeçando, numa eterna busca pela felicidade prometida.

Abertura, pluralidade e extremismo da paixão: em busca de uma compreensão do ciúme na contemporaneidade
Um contexto cultural que, como vimos até aqui, questiona referências tradicionais, penetra ambiguamente na experiência social. Por um lado, libera o indivíduo de uma vinculação engessada com o coletivo, potencializando posturas mais autônomas e criativas; por outro, o distancia da segurança das regras culturais generalizantes, forçando-o - algumas vezes, sem que possua condições para tal - a se guiar sozinho. Diante desta nova exigência de autonomia e autofundação, não raro, a depender das vicissitudes de cada experiência particular, sofrimentos e ambiguidades podem ser desencadeados (Beck & Beck- Gernsheim, 1995; Dufour, 2001), como é o caso do ciúme.
Giddens (2002) aponta que, em circunstâncias de abertura dos autossustentados relacionamentos amorosos contemporâneos, a confiança possui um papel fundamental: é ela que possibilita para os sujeitos o sentimento de proteção necessário para o envolvimento numa relação amorosa que não segue mais um curso predeterminado pelas obrigações tradicionais. Sem o sentimento de confiança, o indivíduo tende a se sentir vulnerável diante da realidade cotidiana de um compromisso amoroso, amedrontado com a possibilidade, sempre presente, de dissolução do mesmo e, ainda, com a responsabilidade que possui em sua manutenção e desenvolvimento. Munido desse sentimento, adquire um sentido de segurança ontológica que permite "pôr entre parêntesis" (Giddens, 2002, p. 52) possíveis contingências que possam afetar seu relacionamento amoroso no futuro, conseguindo envolver-se numa experiência em que as características de abertura e flexibilidade são os princípios fundamentais.
Esta espécie de fé pode parecer, contudo, uma exigência alta demais para alguns indivíduos que, aos serem liberados das referências que outrora os ajudavam a definir os relacionamentos amorosos, e entregues a relacionamentos abertos e dinâmicos como os que caracterizam a contemporaneidade, podem encontrar-se mais inseguros do que liberados para uma intimidade amorosa enriquecedora (Bauman, 2004).
De maneira menos otimista que Giddens, Bauman (2004) mostra-se pouco propenso a acreditar que a confiança possa desenvolver-se de modo a sustentar os "relacionamentos puros" dos indivíduos na contemporaneidade. A vida amorosa contemporânea, segundo o autor, além da pureza, no sentido atribuído por Giddens, reflete os valores de uma lógica consumista de mercado, na qual o descarte da relação em busca de outra que prometa mais satisfação, prazer e menos esforço é uma possibilidade cada vez mais presente na experiência dos casais.
Bauman (2004) argumenta, ainda, que a confiança precisa ser construída pelo casal no interior de um relacionamento que envolve dedicação, compromisso mútuo e saúde psicológica de cada parceiro, de maneira que o sentido da relação seja construído e reafirmado cotidianamente. Porém, ainda segundo o autor, no interior de uma lógica cultural do consumo, a dedicação necessária à construção da confiança pode representar um preço demasiado, que nem todos estariam dispostos e nem mesmo em condições de pagar.
Independentemente do ponto de vista adotado, para relacionar-se amorosamente na contemporaneidade, os indivíduos precisam, de algum modo, conviver com a autonomia e a leveza de uma relação que se torna um "contrato somente até nova ordem" (Giddens, 2002, p. 23), marcada pelas dimensões do risco e da incerteza.
Nesse ponto, podemos pensar que o ciúme das relações amorosas contemporâneas pode representar a circunstância na qual a insegurança toma a cena a dois e o relacionamento se transforma numa empresa conflitiva e arriscada na qual a confiança é justamente uma das questões mais difíceis de serem resolvidas. Assim, num mundo tão aberto em que a continuidade do relacionamento amoroso é somente uma possibilidade dentre outras, a desconfiança do ciumento pode ser uma estratégia de esquiva diante da ansiedade despertada por um mundo lançado ao arriscado reino da opção. Considerando-se ainda o fato de que tais indivíduos se constituem num cenário cultural onde os propósitos pessoais refletem os fugazes princípios do consumo, o contato genuíno com o outro, base fundamental para uma relação baseada em confiança, é posto em cheque.
O próprio Giddens (2002), apesar de apostar na construção de um compromisso pautado em confiança nos tempos atuais, analisa que a intimidade, condição principal da estabilidade contemporânea nos relacionamentos, só é alcançada pelo esforço pessoal de indivíduos seguros de suas próprias autoidentidades. A intimidade e, consequentemente, a confiança, supõem a capacidade de uma abertura e de um contato mais profundo com o outro, num "equilíbrio de autonomia e revelação mútua necessárias para sustentar trocas íntimas" (Giddens, 2002, p. 93), o que, por sua vez, depende de "um trabalho psicológico" (Giddens, 2002, p. 92) que não é necessariamente fácil de ser realizado por todas as pessoas.
No ciúme, a problemática se revela através de um comportamento em que, num contexto de múltiplas possibilidades, o relacionamento passa a ser sentido, simultaneamente, como a tábua de salvação e como um agravante do medo e da ansiedade.
Dessa forma, diante da falta de proteção e do risco envolvidos numa "relação pura", se o imaginário social indica que, no lugar do amor eterno do passado, hoje qualquer coisa pode acontecer, principalmente o fim do amor, é compreensível que alguns indivíduos busquem num controle ciumento da relação uma resposta possível. Com isso, polariza-se: deixa de haver individualidade, liberdade e diferença na relação, ou, pelo menos, tenta-se ignorar que haja, na medida em que se tenta fazer de si uma sombra do outro. Para tanto, busca-se saber onde o parceiro está, com quem e como, conhecer tudo sobre seu passado, investigar o seu presente e controlar o seu futuro. Constrói-se, dessa forma, uma relação em que não se é mais ninguém sozinho, em que se é dependente e indissoluvelmente ligado ao outro, numa oposição clara à liberdade e fluidez que marcam a experiência amorosa contemporânea.
De modo congruente com essas reflexões, Bauman (2004), assinala que:
Quando a insegurança sobe a bordo, perde-se a confiança, a ponderação e a estabilidade da navegação. À deriva, a frágil balsa do relacionamento oscila entre as duas rochas nas quais muitas parcerias se esbarram: a submissão e o poder absolutos, a aceitação humilde e a conquista arrogante, destruindo a própria autonomia e sufocando a do parceiro. Chocar-se contra uma dessas rochas afundaria até mesmo uma boa embarcação com tripulação qualificada. O que dizer de uma balsa com um marinheiro inexperiente que, criado na era dos acessórios, nunca teve a oportunidade de aprender a arte dos reparos? Nenhum marinheiro atualizado perderia tempo consertando uma peça sem condições para a navegação, preferindo trocá-la por outra sobressalente. Mas na balsa do relacionamento não há peças sobressalentes (p. 31).
A partir dessa apreciação da situação das relações amorosas na atualidade, podemos pensar que as conquistas históricas de liberdade e abertura nos relacionamentos contemporâneos, como vínhamos descrevendo, geram novos desafios. Assim, na contemporaneidade, o indivíduo corre o risco de não saber muito bem o que fazer com a liberdade conquistada e, sem referências sociais consistentes para além da lógica imediatista do consumo, pode acabar desbancando para um individualismo extremo que acabe se chocando frontalmente com os anseios, igualmente presentes, de cumplicidade, proteção e compromisso. Diante disso, soluções que mesclam "a submissão e o poder absolutos, a aceitação humilde e a conquista arrogante" (Bauman, 2004, p. 31) podem emergir em uma resposta extrema que, no caso do ciúme, frequentemente se baseia numa fantasia de dominação e controle do outro que tente fazer frente à situação ambígua e aberta que se enfrenta.
Num contexto de abertura, a relação amorosa contemporânea necessitará, segundo Bauman (2004), de vigilância e defesa para que se mantenhaNo ciúme, porém, tal vigilância e defesa não se expressam no necessário monitoramento emocional da relação amorosa, sendo materializada no sentido mais escravizante do termo: o de eterna e minuciosa vigília e autoprotecão diante de uma situação tão aberta quanto ameaçadora.
Giddens (2002) vai sublinhar, na mesma direção da análise de Bauman, que a busca por um estilo de vida tradicional na contemporaneidade oferece sempre e, tão somente, uma segurança limitada. De fato, a tranquilidade que o ciumento adquire através de seu comportamento de busca por controle e domínio do outro e da relação possui um valor fugaz impossível de ser apreciado. Logo, antes mesmo de usufruir as respostas e confirmações para as suas duvidas e exigências, o indivíduo contemporâneo já está novamente ciente das condições flexíveis do amor em nosso tempo, o que pode ajudar a manter a ansiedade que se tenta tão dolorosamente evitar por meio do ciúme.
Além disso, num contexto em que, segundo a lógica cultural do capitalismo atual, acentua-se a volatilidade e efemeridade da moda, dos produtos, das informações, das ideias, serviços, valores e práticas estabelecidas, as pessoas passam a se descartar, de modo muito mais natural, não apenas de bens e produtos, mas também de estilos de vida e relações estáveis (Araújo, 2002; Bauman, 2004; Vaitsman, 1994).
Não é surpreendente, portanto, que um indivíduo que decida se envolver, atualmente, num relacionamento amoroso possa se sentir vulnerável, alguém que teme transformar-se no próximo produto antigo a ser posto em desuso. Nesse processo, pode sentir-se ameaçado tanto pelo prestígio de uma valorização explícita de um presente transitório quanto por um futuro posto em dúvida, reagindo através de cobranças e escravizações na dolorosa e inócua tentativa de produzir previsibilidade e controle.
Além de uma postura reativa à nova condição da experiência amorosa, o ciumento acaba materializando, vale sublinhar, uma postura que reproduz os princípios veiculados no contexto contemporâneo.
Segundo Lázaro (1996), a valorização da estética, signo privilegiado da cultura na contemporaneidade, é propagada de forma penetrante via mídia e outros dispositivos dos meios de comunicação em massa. Sendo conformada dentro dos modelos padronizados e preestabelecidos pelo mercado, passa então a repercutir, não raro, nas problemáticas amorosas através de um culto à imagem que se sobrepõe aos critérios espirituais e morais que também legitimam o desejo.
Tais virtudes da beleza em padrões massivos podem ser passivamente captadas e reproduzidas pelo ciumento que, na busca insaciável, e provavelmente inatingível, para atingir tais padrões, acaba mitigando a sua já frágil autoestima. Nesse caso, a competição - valor mercadológico que dá contorno às experiências sociais em nossa época - passa, não raro, a ser um princípio reproduzido no comportamento de ciúme, quando o individuo, numa busca minuciosa e comparativa de beleza, tenta superar nesse aspecto a si mesmo e aos outros.
A própria lógica do consumo é também materializada na conduta ciumenta em que o outro é tomado, frequentemente, como mais um objeto para posse, controle e uso exclusivistas. Com isso, a troca genuína na qual o outro é considerado em sua diferença e liberdade torna-se impraticável. Ao invés disso, no caminho da coisificação mercadológica do outro, a cada insatisfação (como quando, por exemplo, o parceiro retorna mais tarde do trabalho), o "consumidor" se sente no direito de exigir, sem demora e tolerância, total ressarcimento, desculpas e novas garantias.
Se o interesse daquele que sente ciúmes é manter o outro sob um jugo ordenado de acordo com seus "direitos de consumidor", não existe espaço para injustificáveis momentos e movimentos solitários, que se tornam munição certeira para mais ciúme e exigências confinantes. Em consequência, aquele que é alvo do ciúme, num movimento de contra-ataque e defesa, posiciona-se frequentemente no lado oposto, na luta pela própria individualidade, independência e discriminação de si. Nesse caso, longe de uma vida em comum, seus interesses são opostos: se um lado vence, o outro sai derrotado, o que torna impossível, a não ser num movimento de fusão que anularia irremediavelmente a diferença, vencerem juntos.

Considerações finais
As ambiguidades da vida contemporânea, enraizadas num contexto de incertezas, potencializam, como defendido por diversos autores (Bauman, 2004; Beck & Beck-Gernsheim, 1995; Dufour, 2001; Giddens, 2002; Lebrun, 2004), a abertura de um espaço propício aos extremismos. Assim, como vimos ao longo do artigo, diante de um mundo com possibilidades tão plurais e com tão frágeis e fugazes referências nas quais o indivíduo possa se assentar, comportamentos extremados - tal como o consumo de drogas, ligações com bandos e seitas as mais diversas, entre outros, como é o caso do ciúme de caráter mais extremo - podem parecer a melhor defesa, ou, pelo menos, a mais viável delas. 
Nesse sentido, se tudo se move e se desloca, os indivíduos buscam, como bem aponta Bauman (2003), comunidades imaginadas a que possam pertencer com segurança. Nesse processo, os indivíduos acabam, algumas vezes, perdendo em liberdade. É o que pode ser observado, segundo o autor, no surgimento de guetos habitacionais criados artificialmente para se ter segurança; ou, utilizando os guetos como metáfora, nos guetos de um relacionamento marcado pelo ciúme, onde se tenta, também de modo artificial, construir uma unidade com o outro, uma homogeneidade que solape as incertezas da diferença e da liberdade dos relacionamentos amorosos contemporâneos.
Entretanto, na contemporaneidade, a "comunidade realmente existente" (Bauman, 2003, p.19), ou seja, qualquer tentativa de acordo com regras fechadas e bem delimitadas, nunca estará, ainda assim, imune à reflexão e à mudança. Com isso, ao invés de ajudar a minorar a insegurança, a comunidade – e, da mesma forma, a união amorosa - pode, paradoxalmente, vir a sublinhar os temores. Resume Bauman (2000, p. 30): "Numa relação (na contemporaneidade), você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade".
Nesse cenário, alguns se tornam vulneráveis à mordida do monstro de olhos verdes, e a ciosa tentativa de controle da vida em comum torna-se a saída dolorosamente buscada para o gerenciamento da nova condição da experiência amorosa em nossos dias.

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